quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Editorial: Valores em ruínas


Por Luciana Gianesini

A problemática da violência sexual contra a mulher não é recente. Desde os mais remotos relatos históricos, os próprios valores culturais dão conta de relegar a mulher a uma condição social inferior a do homem. Agravada pelo ‘instinto’ e pela notória superioridade da força física masculina em relação ao sexo oposto, a ação violenta encontra, freqüentemente, barreiras à sua identificação precoce, prevenção e combate.
Em um país como o Brasil, tão ricamente povoado, com sua miscigenação racial e cultural, caracterizado no exterior como um país receptivo, livre de preconceitos e tabus, chega a ser difícil acreditar que os índices de violência sexual, especialmente contra a mulher, sejam tão altos. Mas o mais difícil é crer nas principais causas do problema.
Engana-se quem pensa que os estupros e demais casos de atentado violento ao pudor (penetração anal, toque e outras ações de conotação sexual não-consentidas) ocorrem predominantemente em locais ermos e entre pessoas de classe baixa. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) revelam que grande parte das ocorrências se dá no próprio ambiente doméstico das vítimas, independente da sua condição sócio-econômica. Outro dado assustador mostra a elevada incidência de atos violentos entre pais e filhas ou entre casais com laços familiares já fortemente estabelecidos.
Afinal, o que leva uma pessoa a cometer tal barbaridade? De que forma a violência sexual atua na mente humana, de modo que um crime se torne tão comum a ponto de ser justificado freqüentemente como ‘um descontrole do instinto masculino e da força física’? Não é raro encontrar associado a estes crimes o abuso do álcool e drogas, o que poderia tocar ainda em outra ferida aberta na sociedade atual. Contudo, a crise econômica apresenta-se como outro pilar da questão, aliada ao desemprego e à educação deficiente, em especial. O homem, numa condição de fragilidade no exercício de seu papel social de ‘chefe de família’, comumente é levado a agir com violência numa tentativa de reafirmar-se como tal.
Entretanto, identificado o problema e suas principais causas, cabe aqui uma reflexão acerca das soluções. Seria interessante uma atuação em duas frentes: uma de combate e repressão à violência em si, e outra no que se refere a ações preventivas e proposição de alternativas para escapar de condições sociais potencialmente arriscadas. Cobrar um ‘abrir de olhos’ por parte das autoridades, tanto no sentido de ir de encontro à questão da violência sexual propriamente dita, reforçando a segurança pública e não dando margem à impunidade, quanto no oferecimento de melhores condições de vida, maior geração de empregos e investimentos em educação constituiriam um bom começo. O que nos serve de consolo é a crença em que caminhar na contramão de valores distorcidos pelo seu próprio afrouxamento pode ser difícil, mas não deixa de ser possível.

7 comentários:

Somos os provocados disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Oi Lu, gostei bem do seu texto, achei que pos algumas coisas importantes, como a questão econômica que degrada a sociedade a qual vivemos, uma sociedade que só há corrupção e miséria, além de venda escancarada do sexo, da pornografia, da venda explícita das mulheres como mercado e muito rentável para a ganância humana. Os homens acusam as mulheres de serem as culpadas por se exibirem, por provocar, quando na verdade isto não ocorre.

Realmente é inaceitável a forma que os homens tratam as mulheres. Só que não é uma coisa que será acabada pela vontade humana, realmente não, pessoas que se vendem por qualquer verdinha, jamais irá respeitar uma mulher. Somente com o fim desta sociedade capitalista que poderemos ter a libertação de fato das mulheres, mas isto não impede de lutar pelos seus direitos aqui e mostrar que so com a política é que poderemos conquistar algum avanço.

Parabéns pelo tema, acho que vem em boa hora.

Somos os provocados disse...

é inadmissível que as mulheres tenham ainda que provar à sociedade machista que ela é digna de ser respeitada.Além de tudo ainda cumprir os vários papeis de mãe, mulher, profissional.e quando somos apontadas como seres inteligentes ainda temos que seguir sozinhas, já que a preferência nacional é pela burrice espontânea.Coloquei esse texto para anexar ao caso daquela moça que denunciou um estupro no hospital universitário e depois,quando seu bebê morreu, ela foi acusada pelo mesmo hospital de dar cocaína para a acriança, o que foi desmentido depois por 3 laboratórios.Por denunciar o abuso ela sofreu verdadeiro linchamento moral, ao invés de ser protegida.

carol

Contos, causos e poesias disse...

A era dos machões está acabando.
A mulher já vem ocupando os espaços, que antes somente eram ocupados por homens, vejam que até na Casa de Custódia de Taubaté já tem mulheresrssss , Brincadeirinha.
Mas felizes daqueles que tem uma mulher com vóz ativa, dentro de sua familia, pois ela nos defende com mais eficiencia do que nós mesmos.
Quantas vezes ela vai deitar-se angustiada, já não suportando mais o peso daquele problema, e nos imaginando cansados de um trabalho que talves não tenha sido tão duro assim, nos poupe daquela preocupação e nos garanta um sono tranquilo.
A dedicação com que, ainda que em dupla jornada, ainda acha tempo para passar no supermercado, comprar aquele pedaço de carne que pretende fazer daquele jeito, que talvez nós gostamos mais do que ela.
Quem tem a felicidade de conviver com uma mulher que lhe ame, sabe que o melhor lugar para um homem morar............é no coração de uma mulher.
Mulheres, á luta com rosas e flores, áo amor com sedução e carinho,
À maternidade, sem a qual o mundo morre
Ào amor que de seus corações se transformam em afeto.
Mesmo sem ter-lhes dado um beliscão, eu lhes peço perdão, por aquilo que meus pares fizeram.

Unknown disse...

O que realmente me choca e me indigna a respeito da violência contra a mulher é a omissão da mesma. Por mais recuada que possa estar, por mais oprimida que se deva sentir-se, é algo que eu realmente não consigo entender. Primeiro, pensei na possibilidade do amor cego, mas não me convenço por isso; pela própria condição de retraída, mas da mesma forma, já conferi casos em que este não é o maior problema. De fato, a omissão da mulher talvez seja um dos maiores pilares que mantém este absurdo ainda em voga.

Unknown disse...

Deve-se ressaltar a atuação dos Direitos Humanos na questão na violência contra a mulher. A lei Maria da Penha foi estimulada pelo caso de impunidade dado pelo Estado ao agressor da vítima que deu nome a lei. Peticionários requeriram a condenação do Brasil junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em 2001, o Brasil foi condenado por negligência e omissão quanto violência doméstica e a comissão recomendou ao Estado brasileiro: "Prosseguir e intensificar o processo de reforma, a fim de romper com a tolerãncia estatal e o tratamente discriminatório com respeito à violência doméstica contra as mulheres" (Comissão Interamareciada de Direitos Humanos, informa n.54/01, de 16 de abril de 2001).

Contos, causos e poesias disse...

E a opinião da igreja, na questão do aborto?
Que eu saiba opinião vem seguida de atos de coragem.
Esta igreja que ai esta e eu sou católico, deixou de proteger suas ovelhas á muito tempo.
Onde estão os padres missionários que eram presos e as vezes perseguidos e mortos por participarem da luta de trabalhadores rurais e sindicalistas?
Os nossos padres de hoje estão acomodados, e a CNBB, apenas lança campanha de fraternidade, que não surte resultado nenhum, termina o ano a situação denunciada permanece na mesma, e o clero troca a campanha por outra, como se tudo tivesse resolvido.
Em 1998, a PUC do Rio de Janeiro, teve suas contas junto ao INSS, recusadas, porque para continuar á ter a isenção pretendida, teria que provar como entidade filantrópica, que tinha 40% de bolsistas, no entanto ficou comprovado que tinha apenas 7% de bolsistas e dentre eles muitos sobrinhos de bispos e poucos alunos realmente necessitados.
Não se deve lutar por causa da violencia? ora mas a igreja deve reportar-se ao seu passado de lutas em favor do povo oprimido, lembrando que moisés , ordenou ao mar vermelho, que se abrisse, para a passagem do povo oprimido, e o mar se abriu, hoje vivemos num mar de injustiças, que não se abre á vóz de nenhum de nossos pastores, talves porque preguem uma justiça que não pratiquem.
Façam mais justiça e causas da injustiça social, como o aborto deixara de acontecer.